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*********** OLIVIA e JOAN - IRMÃS & INIMIGAS



Raras irmãs alcançaram o estrelato no cinema. Lembro-me de Lillian e Dorothy Gish (anos 10 e 20); Norma e Constance Talmadge (anos 20); Constance e Joan Bennett (anos 30 e 40); Eva e Zsa Zsa Gabor (anos 50); Catherine Deneuve e Françoise Dorléac (anos 60); Vanessa e Lynn Redgrave (dos anos 60 em diante). Mais recentemente, Natasha e Joely Richardson; Patricia e Rosana Arquette; Jennifer e Meg Tilly. No entanto, as mais famosas irmãs estrelas de cinema de todos os tempos são OLIVIA DE HAVILLAND (n. em 1916) e JOAN FONTAINE(n. em 1917). Irmãs e inimigas mortais. Para entender essa rivalidade, li o bem documentado “Sisters: The Story of Olivia de Havilland e Joan Fontaine” (1984), de Charles Higham. 

Nunca apreciei profundamente nenhuma delas, embora saiba que são excelentes atrizes. De Havilland, em contraste com sua imagem pública comportada e boazinha, sempre teve um temperamento inflexível e brigão. Fontaine, insossa e sofisticada, em cena parece estar repetindo o mesmo personagem de inúmeros outros filmes que fez: a vítima apaixonada, frágil e desorientada.


Elas sempre tiveram uma relação difícil, começando na infância, quando Olivia teria rasgado uma roupa de Joan, forçando-a a costurá-la novamente. A rivalidade e o ressentimento resultam também da percepção de Joan em relação ao fato de Olivia ser a filha favorita da mãe delas, a atriz Lillian Augusta Ruse. JOAN FONTAINE, certa vez, declarou: “Lamento, mas não me lembro de um ato de bondade de minha irmã durante toda a minha infância. Em 1933, quando ela tinha 17 anos, jogou-me na laje da piscina e pulou em cima de mim, fraturando a minha clavícula”. Segundo o biógrafo Higham, OLIVIA DE HAVILLAND nunca conseguiu dividir a atenção maternal com a irmã mais nova, além disso ela se via como a mais bonita e a mais talentosa, chegando a fazer um testamento, em uma de suas brincadeiras de criança, deixando toda a sua beleza para a sua irmã, “que nada possui”. Nos estudos, no entanto, era Joan quem se destacava.


Ambas vencedoras do Oscar, com estrelas na Calçada da Fama de Hollywood e aclamadas por seus papéis em filmes maravilhosos dos anos 30, 40 e 50, OLIVIA DE HAVILLAND foi a primeira a se tornar atriz, estreando na comédia “Esfarrapando Desculpas / Alibi Ike” (1935). Enquanto sua carreira decolava, através de clássicos de aventuras ao lado de Errol Flynn (com quem fez oito filmes), como “Capitão Blood / Captain Blood”(1935), “A Carga da Brigada Ligeira / The Charge of the Light Brigade” (1936) e “As Aventuras de Robin Hood / The Adventures of Robin Hood (1938), Joan desenvolvia um “complexo de Cinderela” e se via como coitadinha. Para piorar as coisas, sua mãe exigiu que mudasse seu sobrenome para Fontaine, evitando uma possível associação com Olivia, e proibiu-a de aceitar um interessante contrato com a Warner Bros., “porque é o estúdio de sua irmã”

A sorte de JOAN FONTAINE mudou numa festa na casa de Charlie Chaplin, onde jantava sentada casualmente ao lado do produtor David O. Selznick, que terminou convidando-a para fazer um teste para “Rebecca, a Mulher Inesquecível”. Disputando o papel com Vivien Leigh e Anne Baxter, entre outras, ela se saiu vitoriosa, mudando os rumos de uma carreira até o momento marcada por filmes B ou papéis pequenos em clássicos como Rua de Gualidade/ Quality Street(1937), de George Stevens; As Mulheres / The Women (1939), de George Cukor; e Gunda Dim / Idem (1939), também de Stevens. 


Em 1942, elas foram nomeadas para o Oscar de Melhor Atriz. Joan indicada pela atuação em “Suspeita”, de Alfred Hitchcock, e Olivia por “A Porta de Ouro / Hold Back the Dawn”, do elegante Mitchell Leisen. Joan acabou levando a estatueta. O biógrafo Charles Higham descreveu os eventos da cerimônia de premiação, afirmando que Joan avançou empolgada para receber seu prêmio, rejeitando as tentativas da irmã cumprimentá-la. Olivia acabou se ofendendo com essa atitude. Depois, Joan declararia: “Quando foi anunciado o meu nome como vitoriosa, percebi que Olivia teve vontade de dar um salto e me agarrar pelos cabelos”. Anos mais tarde, em 1947, seria a vez de Olivia ganhar o Oscar, pela atuação no melodrama “Só Resta uma lágrima”. O prêmio era para ser dado por Joan Crawford, mas a Academia, talvez acreditando que não poderia haver melhor cenário para a reconciliação das irmãs, substituiu-a em cima da hora por Joan. Esta, chamou a irmã para subir ao pódio. Mas quem esperou um sorriso afetuoso ou um abraço fraternal de reconciliação, enganou-se, Olivia se recusou a apertar a mão da irmã, numa comentada saia-justa. Segundo o biógrafo, na ocasião Joan fez um comentário leviano sobre o então marido de Olivia, ofendendo-a. Ela não quis receber os cumprimentos de sua irmã por este motivo.


Elas muitas vezes disputaram os mesmos homens e papéis. JOAN FONTAINE foi a primeira a se casar – com o popular astro do cinema britânico Brian Aherne -, gerando novo atrito entre elas. Na festa de casamento, o namorado de OLIVIA DE HAVILLAND – o bilionário Howard Hughes - dançou com a noiva e tentou seduzi-la, procurando convencê-la a desistir do casamento e se casar com ele. Olivia se chocou, culpando a irmã pela situação humilhante. No caso de “... E o Vento Levou”, Joan foi considerada muito chique para o personagem e Olivia ganhou o papel da doce e simplória Melanie Hamilton, mas na disputa pelo cobiçado papel da versão de Alfred Hitchcock para o romance de Daphne du Maurier, “Rebecca”, Joan se saiu vitoriosa.


A relação entre as irmãs continuou a deteriorar-se após os incidentes na cerimônia do Oscar. Em 1975, aconteceria algo que faria com que elas deixassem de se falar definitivamente: segundo Joan, Olivia não a convidou para um ritual religioso em homenagem a mãe delas recentemente falecida. Mais tarde, Olivia afirmou que tentou comunicar Joan, mas ela se encontrava muito ocupada para atendê-la. Charles Higham também diz que Joan tem uma convivência distante com suas próprias filhas, talvez porque tenha descoberto que elas sempre mantiveram uma amizade secreta com a tia Olivia. Ainda hoje as irmãs se recusam a falar publicamente sobre sua delicada situação, apesar de JOAN FONTAINE ter comentado em entrevista que muitos boatos a respeito delas surgiram dos “cães de publicidade” do estúdio.


Ocasionalmente, uma rara trégua acontece entre elas. Em 1961, passaram o Natal juntas no apartamento de Joan, em Nova York, mas a noite terminou em briga. Oito anos depois, Joan recebeu um pedido de ajuda de OLIVIA DE HAVILLAND, então adoentada e em dificuldades financeiras. “Deixei um gordo cheque”, lembra Joan. Mas os ressentimentos e a mesquinha antipatia continuaram. Quando a mãe morreu de câncer, deixou sua herança para os filhos de Olivia e nada para as filhas (uma delas, adotiva) de Joan. Vingativa, Joan lançou em 1978 a autobiografia “No Bed of Roses” (Nenhum Mar de Rosas), que segundo um dos seus ex-maridos – William Dozier – não contém nenhuma verdade, fazendo um retrato cruel da irmã, inclusive descrevendo-a como venenosa. 

No 50 º aniversário do Oscar, em 1979, Olivia e Joan tiveram que ser colocadas em extremidades opostas no palco, evitando um bate-boca público. Nos bastidores, nem se cumprimentaram. Dez anos mais tarde, na mesma cerimônia, haviam reservado para elas quartos vizinhos em um hotel, mas Joan exigiu mudança imediata. Quando o presidente Nicolas Sarkozy conferiu o prêmio de maior prestígio da França, a “Légion d'Honneur”, para Olivia, Joan ignorou a ocasião, como ignorou todos os aspectos da existência de sua irmã ao longo de décadas.


Curiosamente, JOAN FONTAINE e OLIVIA DE HAVILLAND são umas das poucas atrizes da era de ouro de Hollywood que ainda estão vivas. Já perto dos 100 anos de idade, ricas, lúcidas  e bem de saúde, podemos dizer que passaram a vida toda como ferrenhas inimigas. Elas não trocam uma palavra há décadas e parece pouco provável que voltem a se encontrar ou falar novamente. Tornou-se a mais amarga e longa rivalidade de Hollywood, uma fonte de sofrimento para seus familiares e de constrangimento para os seus amigos e colegas. Joan, quatro vezes casada e divorciada, mora com seus cinco cachorros numa mansão na Califórnia. Olivia, duas vezes divorciada, vive em Paris.

Numa entrevista recente, perguntaram a Joan se elas ainda se reconciliariam, e ela respondeu honestamente: “Melhor não”, continuando: “Minha irmã Olivia é uma mulher muito peculiar. Quando éramos jovens, eu não tinha permissão para conversar com seus amigos. Agora, eu não estou autorizada a falar com seus filhos e eles são proibidos de me ver. Essa é a natureza dessa mulher. Já me acostumei e atualmente já não me incomoda sua forma difícil de ser”.


MELHORES ATUAÇÕES de OLIVIA
(por ordem de preferência)

01
Na COVA das SERPENTES
(The Snake Pit, 1949)
direção de Anatole Litvak
Com: Mark Stevens, Leo Genn e Celeste Holm

Melhor Atriz do National Board o Review
Melhor Atriz da Associação dos Críticos de Cinema de Nova York
Taça Volpi de Melhor Atriz no Festival de Veneza

02
TARDE DEMAIS
(The Heiress, 1949)
direção de William Wyler
Com: Montgomery Clift, Ralph Richardson e Miriam Hopkins

Oscar de Melhor Atriz
Globo de Ouro de Melhor Atriz-Drama
Melhor Atriz da Associação dos Críticos de Cinema de Nova York

03
...E o VENTO LEVOU
(Gone With the Wind, 1939)
direção de Victor Fleming
Com: Clark Gable, Vivien Leigh, Leslie Howard,
Thomas Mitchell e Hattie McDaniel

04
SÓ RESTA uma LÁGRIMA
(To Each His Own, 1946)
direção de Mitchell Leisen
Com: John Lund

Oscar de Melhor Atriz

05
ESPELHOS D’ALMA
(The Dark Mirror, 1946)
direção de Robert Siodmak
Com: Lew Ayres e Thomas Mitchell


MELHORES ATUAÇÕES de JOAN
(por ordem de preferência)

01
REBECCA, a MULHER INESQUECÍVEL
(Rebecca, 1940)
direção de Alfred Hitchcock
Com: Laurence Olivier, George Sanders e Judith Anderson

02
CARTA de uma DESCONHECIDA
(Letter from an Unknown Woman, 1948)
direção de Max Ophuls
Com: Louis Jourdan

03
SUSPEITA
(Suspicion, 1941)
direção de Alfred Hitchcock
Com: Cary Grant e Sir Cedric Hardwicke

Oscar de Melhor Atriz
Melhor Atriz da Associação dos Críticos de Cinema de Nova York

04
ALMA sem PUDOR
(Born to be Bad, 1950)
direção de Nicholas Ray
Com: Robert Ryan, Zachary Scott, Joan Leslie
e Mel Ferrer

05
Na VORAGEM do VÍCIO
(Something to Live For, 1952)
direção de George Stevens
Com: Ray Milland e Teresa Wright

 
 

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